A Vida no Centro
Parceria entre SPTW e A Vida no Centro vai tratar dos grandes temas de inovação e empreendedorismo, com foco no Centro de São Paulo
Em plena quarentena, quando muitos negócios ficaram paralisados, muitas empresas tiveram que fechar as portas temporariamente e outras não conseguiram sobreviver à crise no mercado, a cidade de São Paulo se destacou no ranking mundial de inovação do ecossistemas de pequenas empresas de base tecnológica (startups), tendo conquistado o 18º lugar na lista das 40 cidades mais importantes neste setor. O mapeamento foi feito pelo StartupBlink, que ainda apontou o Brasil como um dos 20 principais países do ranking.
Enquanto alguns negócios lutaram para sobreviver, empresas que atuam com inovação, startups e profissionais da área de tecnologia viram seus negócios e serviços crescerem em meio à crise. Telemedicina, bancos digitais e profissionais da área de Suporte e Service Desk são alguns desses exemplos.
Michel Porcino, 36 anos, fundador da São Paulo Tech Week (SPTW) e hoje head de inovação do Sebrae-SP, aponta alguns fatores que fazem São Paulo se destacar neste cenário. Ele lembra que, para um ecossistema de startups existir, é preciso pensar alguns pilares: estrutura de capital para a empresa crescer, mercado para consumir uma solução, infraestruturas para apoiar os projetos, bons desenvolvedores e talentos, além do ambiente institucional.
Quando se olha para a capital paulista, diz Michel, percebe-se que ela tem dois elementos fundamentais: empreendedores qualificados e acesso ao capital. “Somos um hub para fundos internacionais que operam da cidade de São Paulo e a maior base de investidores-anjo do Brasil está aqui. A cidade ainda concentra as maiores oportunidades de investimentos no país.Um outro diferencial é o mercado, tanto B2C quanto B2B (negócios voltados para o consumidor ou entre empresas). A população tem uma alta noção de tecnologia, o que é fundamental para uma startup” explica o head de inovação do Sebrae-SP.
São Paulo é economicamente relevante em serviços financeiros, é um hub global de fintechs e um canal para mobilidade urbana, por exemplo. O desafio do trânsito, por exemplo, incentiva a busca de soluções e estimula o empreendedorismo.
O município dispõe de iniciativas com Google Campos, Sebrae, Cubo Itaú, mais de 50 programas corporativos de apoio às startups, centenas de coworkings, tanto de grandes empresas, como WeWork e Spaces, como iniciativas menores. De acordo com Porcino, uma infraestrutura que atua em prol do empreendedor, o que coloca São Paulo como um destaque, no mínimo, na América da Latina.
Com 12 milhões de habitantes, São Paulo tem um PIB de R$699,3 bilhões o equivalente à soma de 4.305 municípios brasileiros.
Pedro Prates, 32 anos, cofundador e cohead do Cubo Itaú, aponta questões que obrigaram empresas e startups a iniciarem um MVP (produto viável mínimo) à força durante a pandemia. “De uma hora para outra, foi preciso realizar atendimentos via aplicativos, o trabalho passou a ser remoto. Como levar uma operação de telemarketing, por exemplo, com 50 mil colaboradores que atuavam num prédio para o atendimento remoto diretamente de casa? Como mudar operações em universidades com milhares de alunos? A solução passa por tecnologia em velocidade”, diz ele.
As empresas, mesmo as grandes, tiveram de se reinventar e vivenciar a realidade das startups: criar o mínimo produto viável e ir evoluindo a partir disso.
“Durante a pandemia, muitas empresas grandes nos procuraram. Independentemente do tamanho – média, grande ou ultra grande -, não existem mais CEOs que não sejam cobrados pelos seus acionistas, sócios ou até colaboradores sobre a transformação digital”, explica Prates. De acordo com o head do Cubo Itaú, muitas tecnologias, como as de trabalho remoto, estavam disponíveis, mas por uma questão cultural elas não eram usadas. No momento em que todo mundo foi para o home office, essa lógica
passou a fazer sentido, o que naturalmente mudou o modo de operar das empresas.
Para Pedro Prates, o histórico do ecossistema de inovação e tecnologia paulistano foi o que levou a capital paulista a competir de igual para a igual com as cidades mais desenvolvidas do mundo.
Prova do ecossistema fortalecido é que mais de 50% das startups residentes no Cubo Itaú, mesmo em cenário desafiador, cresceram em 2020.Dentre os setores que mais cresceram em faturamento em relação ao ano passado, estão: Saúde (10 vezes), Finanças (4,8 vezes), Educação (2,4 vezes), além de outros como varejo e logística e mobilidade.
O que explica essa curva acentuada de crescimento de São Paulo neste ano tão complicado? Demanda. Há grandes empresas entrando no jogo da inovação aberta. O que uma startup mais precisa para escalar seu negócio? Achar clientes e crescer rápido. De fato, São Paulo é o lugar onde existem essas demandas. A necessidade do mundo dos negócios fez com que esse processo acelerasse e as grandes empresas entendessem que podem se beneficiar com a transformação digital trazida pela integração com uma startup.
“O que aconteceu em 2020 tem a tendência de crescer exponencialmente. Não por acaso as conexões feitas na cidade de São Paulo, seu histórico, economia e iniciativas tornam o ecossistema da cidade cada vez mais relevante mundialmente”, aponta Prates.
“O que destaca a cidade de São Paulo é um ambiente bastante competitivo, com uma comunidade qualificada que pensa o coletivo, o que contribuiu para que, durante a pandemia, o ecossistema se fortalecesse”, diz Luiz Sales, 44 anos, desenvolvedor de softwares e curador da São Paulo Tech Week (SPTW) em coding. “Para mim, não é algo que começou na pandemia, mas sim uma semente que foi plantada lá atrás e, quando a cidade mais precisou, essa rede evidenciou o que ela já fazia”, diz ele. De acordo com o curador, que também integra as comunidades ZeroOnze e Distrito, uma das grandes mudanças que a crise do novo coronavírus trouxe foi a geração e distribuição de conteúdo pela comunidade de inovação e tecnologia, democratizando o tema e trazendo à luz pautas como diversidade e inclusão. “São Paulo está conseguindo conectar propósitos com negócios”, afirma.
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